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A Terceira Lâmina - Zuza Homem de Mello

É o título de seu disco lançado em 1981, que mereceu de Artur Xexéo na revista Veja a seguinte observação: "Suas imagens São confusas fragmentadas mas ele as transmite com tanta determinação que acaba convencendo ouvinte de seu sentido poético". Zé procuravam uma música que caracterizasse esse terceiro trabalho, encontrando-a na própria forma de um LP de vinil, uma lâmina. A letra penetra na solidão e na tristeza "dos que vivem calados pendurados no tempo", os miseráveis que vivem debaixo de pontes, em guetos, dormem sob jornais ou em caixas de papelão. O original era uma balada lenta, e agora ressurge como um baião, destacando a sanfona de Dominguinhos com um interlúdio que não existia. Numa das noites em que foi assistir ao saudoso João do Vale em seu forró forrado, no Rio, Zé se surpreendeu com a versão de sanfona zabumba e triângulo para sua balada. Agora teve a oportunidade de dar a Terceira Lâmina a mesma ótica rítmica do trio nordestino daquela noite.

Eternas Ondas - Zuza Homem de Mello

Como muitos compositores brasileiros, Zé Ramalho também fez uma música para ser gravada por Roberto Carlos. Apresentou-lhe pessoalmente Eterna Ondas num passeio pelo iate Lady Laura por volta de 1980, ela, porém, não foi incluída no disco. Sem se desapontar inteiramente, Zé mostrou a canção para Fagner que a gravou na versão considerada definitiva, detonando o sucesso em seu disco Vento Forte. Foi também gravada por Ray Coniff. O tema de cunho bíblico, cita o grande dilúvio e a inexorável força da natureza diante da frágil vida humana.

Garoto de Aluguel - Zuza Homem de Mello

Faz parte de seu segundo disco, A Peleja do Diabo com o Dono do Céu e ressurge em forma de balada. A comercialização do sexo, uma experiência vivida brevemente por Zé no Rio de Janeiro em meados dos anos 70, quando batalhava para sobreviver a penúria, resultou nessa canção, que acabou surpreendendo-o ao ser adotada por muitos gays e homossexuais em geral. Já foi gravada por Carmem Costa numa produção de Ricardo Cravo Albin, e mais recentemente por Belchior, em versões até mais conhecidas que a do autor. A nova levada foi influenciada pelo som das guitarras em hotel Califórnia (1976) do grupo The Eagles.

Táxi Lunar - Zuza Homem de Mello

Geraldo Azevedo - que participa dessa faixa - fez a música logo depois de chegar ao Rio de Janeiro quando ainda gravava seu primeiro disco. A letra Foi dividida entre Zé e Alceu. O verso "Um táxi pra estação lunar", surgiu dos fonemas com que Geraldinho sonorizava a canção ainda sem letra. Tá-cum-tim-tum-tá-cum-rá-cum-tê-rê-tax-pá. Zé fez o primeiro bloco e o refrão, Alceu os outros dois Blocos. Provavelmente a única parceria dos três, que se encontravam nessa época em casa de amigos e agora estão novamente juntos no show e no disco Grande Encontro. É uma canção abstrata, lisérgica e faz parte da linha que agrada aos malucos que gostam de viajar com as imagens sugeridas pela letra. Foi gravada por Zédisco Orquídea Negra (1983), portanto posteriormente a de Geraldo em 1979.

Kryptônia - Zuza Homem de Mello

O título poderia remeter-nos ao Super-Homem, mas a letra se encaixa na área da mitologia grega, presente em sua obra. Sob a influência das histórias em quadrinhos, foi criado em verdadeiro delírio, um alucinante diálogo de Severa advertência entre uma entidade superior e um ser terreno. Alusão do cometa se espatifando propicia a sonoridades espaciais que se ouvem no final. A forma de ressaltar propositadamente construções proparoxítonas (dé-ci-mo-sex-to ou dí-ssi-mu-la-ria ou cá-la-te-bo-ca) é bem um produto da educação rígida e da sólida base gramatical que Zé Ramalho pôde ter na infância, quando estudou num colégio marista.

Frevo Mulher - Zuza Homem de Mello

O marcante riff na gravação original de Frevo Mulher, que fechava seu segundo disco, não está presente nesta versão do agalopado, que zoneou nossas rádios ao final de 1979. Um novo riff de Robertinho de Recife e o clima de feira marroquina obtido com o som de uma flauta árabe, cítara e os talking drums, remetem à sonoridade moura que tanto Zé como Alceu Valença conhecem de longa data. Frevo Mulher termina num batuque contagiante. Foi feito para cantora Amelinha entre 1978 e 79, que o gravou em seu segundo LP (1979) e nasceu num quarto do hotel Plaza do Rio de Janeiro. Nessa mesma noite, no início do romance entre ambos, Zé também Galope Rasante. O agalopado de compasso binário é produto de uma alquimia de frevo com forró, uma temperança idealizada por Zé Ramalho com esses dois ritmos das festas juninas no nordeste. Apesar das previsões desanimadoras do então diretor da gravadora de Amelinha, Frevo Mulher começou paulatinamente a ser executadas nas academias de ginásticas do Rio, logo depois pelos DeeJays do Dancing Days no Morro da Urca e em consequência solicitada por telefone às rádios. Causou um verdadeiro furor, provocando até a rápida lição de um compacto simples para atender a demanda e consagrar Amelinha. Segundo Caetano Veloso, o carnaval da Bahia tomou um novo rumo depois de Frevo Mulher. Seu festivo ritmo alucinante também expirou o produtor desse álbum, Robertinho de Recife, em seu Elefante, sucesso de 1981.

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